CARLOS V

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Carlos V



Os Habsburgos governaram Hungria e a Boêmia de 1526 a 1918. Nápoles, Sicília e Sardenha sendo que o auge do poder sucedeu em 1519, com Carlos I, rei da Espanha e Imperador (como Carlos V).

Reunia nele as heranças das casas de Áustria, Borgonha, Aragão e Castela e as imensas terras espanholas no Novo Mundo.

Foi o rei mais poderoso de seu tempo e desde 1552 confiou ao irmão caçula, Fernando I, suas possessões austríacas, enquanto reservava para o ramo espanhol da família os Países Baixos e a Borgonha.

Morto Carlos, seu irmão Fernando (1503-1564) recebeu a coroa imperial e as posses no Danúbio que incluíam Áustria, Boêmia e Hungira, e ao filho Filipe II (1527-1598) coube Espanha e Borgonha.

A Fernando I deveu a organização progressiva do futuro Império Austro-Húngaro. Perdurou o costume de divisões por sucessão, e em 1564 o novo imperador Maximiliano II concedeu a Estíria a seu irmão Carlos, o Tirol e possessões no Reno ao outro irmão Fernando.

Carlos V nasce no ano em que Pedro Álvares Cabral descobre o Brasil. Era filho de Filipe o Belo e de Joana a Louca.

Da avó paterna, Maria da Borgonha, herdara a Borgonha, um ducado que, no século XIV, se transformara numa das principais potências da Europa, quando agregou sucessivamente a Flandres, o Brabante, o Limburgo, o Hainaut (Henegouwen), a Zelândia (Zeeland), a Holanda, a Frísia e o Luxemburgo.

Do bisavô, Filipe o Bom (1419-1467), casado com D. Isabel de Portugal, filha do nosso D. João I, mantinha o sonho de se assumir como o Grão-Duque do Ocidente e do avô, Carlos, O Temerário, a ambição de constituir uma nova Lotaríngia, em rivalidade com o rei de França.

Do avô paterno, Maximiliano I (1459-1519), ei-lo Habsburgo, herdeiro daquela família, originária da Suíça que, ao longo do século XIV, junta ao ducado da Áustria, a Carniola, o Tirol, a Ístria e o Trieste, esses herdeiros da marca oriental dos carolíngios que assumem a fronteira oriental da cristandade em tensão com os turcos, esses Habsburgos que, desde 1438, foram elevados à categoria de Imperadores da Alemanha.

Aliás, foi Maximiliano que iniciou o processo de alianças matrimoniais que tornaram o núcleo austríaco numa potência européia, inspirando o dístico de
bella gerant alii, tu, felix Austria, nube, Nam quae Mars aliis, da tibi regna venus (que os outros façam a guerra, tu, feliz Áustria, contratas casamentos porque os reinos que Marte dá aos outros, é Vênus que os assegura).

Da avó materna, Isabel de Castela (1451-1504), herda a principal potência continental da península ibérica, outra antiga marca fronteiriça que, em 1230, se unira a Leão e que, em conjunto com Aragão, conquistara Granada em 1492.

Do avô materno, Fernando de Aragão (1452-1516), recebe um reino unificado com a Catalunha, desde os começos do século XII, que, se alargara ao Rossilhão (finais do século XII), às Baleares, a Valência, à Sicília (século XIII), à Sardenha (século XIV) e a Nápoles (século XV), constituindo-se como a principal potência mediterrânica.

Aos quinze anos de idade torna-se Duque da Borgonha e senhor dos Países Baixos.

Em 1516, assume-se
rei de Espanha. Foi o papa Leão X que lhe concedeu tal título, como Alexandre VI o havia dado a Fernando o Católico, desse modo se concretizando o programa que levou ao casamento de Isabel e Fernando, em 1469, e à anexação de Navarra, em 1512.

Aliás, perante tal circunstância, logo protestou o rei de Portugal, invocando que he Portugal hua parte tam principal de Hespanha, conforme pode ler-se em Frei Francisco Brandão, Discurso gratulatorio sôbre o dias da felice restituição y aclamação da Magestad del Rey D. João Nosso Senhor, Lisboa, 1642 .

Em 1519 é eleito Imperador, contra as pretensões do rei de França, assim sucedendo ao avô paterno, Maximiliano I, ao mesmo tempo que assume as terras hereditárias dos Habsburgos.

Eis a última etapa do Império medieval, essa tentativa de união do político com o religioso que visava conservar o que havia de comum entre os povos da respublica christiana...

O império de Carlos V resultava, assim de uma adição de várias unidades políticas geradas nos finais da Idade Média, num misto de guerra e de uniões matrimoniais dinásticas.

Com ele, nasce a Espanha, já religiosamente unificada desde 1478, com a Inquisição, e morre a Hispania. Ultrapassando-se a si mesma, esta nova entidade política vive em regime de excesso de uma incompleta realização. Como memória de um projeto que nunca realizou. Como o poder ser de uma monarquia universal.

Contudo, os choques com a França, bem como a erosão da guerra religiosa alemã, provocada pela Reforma, levam Carlos V a um gradual abandono do poder.

Em Outubro de 1555 cede ao filho, Filipe II, Nápoles e os Países-Baixos.

Em Janeiro de 1556, o
Franche-Comté, a Espanha e as restantes possessões italianas.

Em Setembro de 1556 lega ao irmão Fernando, já rei da Boémia e da Hungria, as possessões hereditárias dos Habsburgos na Alemanha e a coroa imperial.

Retira-se, então, para Espanha, onde morre em 1558.

Mas os sucessores não deixam de continuar o acrescentamento.

Fernando, irmão de Carlos V, pelo casamento de 1526, fizera juntar à Áustria as coroas da Boémia e da Hungria.

Filipe II, em 1580, passará a rei de Portugal. Mas, se consegue levar a cristandade a vencer os turcos em Lepanto, em 1578, já não é capaz de domar a Inglaterra, com a derrota da
Invencível Armada em 1588, nem de conservar a unidade dos Países Baixos, onde se dá a secessão das Províncias Unidas, a partir da União de Utreque, em 1579.


Fonte: (José Adelino Maltez).




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